sábado, 30 de outubro de 2010

O líder falido

 

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Sentei hoje com alguns colegas da época do curso de Direito e, como há muito não acontecia, me pus a discutir política num desses papos regados a cerveja, mas cuidei para que, dessa vez, passado o tempo das paixões, das convicções, eu fosse um sujeito mais a ouvir do que a opinar.

Queria tirar dali alguma análise, mais do que convencer, mais do que argumentar. Acho que essa é, definitivamente, a minha “zona de conforto” em termos de atuação política. Meu papel é analisar. Que se dane o argumentar, que se dane o convencer. Não dou a mínima para transformar a realidade. Interessa-me apenas olhá-la cara a cara, por mais horrorosa que ela seja. Rendo-me ao mais puro cinismo.

Chegada a véspera da decisão do segundo turno, eu precisava estar atento aos discursos. Queria saber o que passa, a essa altura, pela cabeça de ambos os lados.

Não existe mais o petista entusiasmado, ou quase não existe. Talvez haja um ou outro, entre essas pessoas nas quais o interesse por política é mais recente ou, obviamente, entre os carreiristas, doidos pra pegar uma cueca com uma boa grana.

Entre os meus amigos, gente que estudou comigo, gente da qual me acompanhei durante minha formação, com quem compartilho certos aspectos do meu pensamento político, há o “petista de ocasião”. Aquele que é “devolvido ao petismo” por força das circunstâncias, como ocorre agora nesse segundo turno.

Ninguém quer endossar cegamente o petismo “zédircelista”, mas, por questão de formação, por questão de valores, nos sentimos compelidos a manifestar, de todas as maneiras possíveis, nossa grande repulsa ao que representa o PSDB, José Serra como figura, e os discursos por ele inspirados.

Todas as máscaras tucanas caíram. O sociólogo da Sorbonne era bom em sustentá-las, mas Serra é um fracasso fragoroso nessa tarefa. Serra não sabe mentir, mas isso não é nele uma virtude. Não saber mentir é virtude para aqueles que não tentam viver de mentira. Para um sujeito como o Serra, não saber mentir é tão fatal quanto não saber respirar, por isso ele é, visivelmente, um morto-vivo.

Ao não saber mentir, Serra deixa transparecer, perfeitamente, o que ele representa em sua ação política. É o fantasma da Casa Grande voltando para assombrar a massa escrava quase século e meio depois da suposta abolição. Mas não é o tipo de assombração que chega pra aterrorizar. Chega tentando, debilmente, seduzir. Inclusive prometendo décimo terceiro de bolsa família, que é um prato extra daquela feijoada pútrida que se comia na senzala, daquele mocotó de porco em decomposição avançada.

Outro efeito marcante dessa inabilidade do tucano é a postura de sua militância (ou limitância), tipo de gentinha que discute política sem o mínimo de pudor sobre seus mais medonhos preconceitos. “Quem vai decidir essa eleição é o voto dessa gentalha, gente como a doméstica lá de casa”, diz o playboyzinho afrescalhado.

Ao sair de cena o “Príncipe dos Sociólogos”, cedendo lugar a um sujeito pequeno, mesquinho e vulgar como José Serra, não caiu apenas a máscara do PSDB. Caíram as máscaras dos seus entusiastas. E isso é, simplesmente, o maior trunfo na mão do PT.

Num país como o Brasil, você não pode fazer política com o discurso que só sensibiliza dondoca de salão de beleza e playboy afrescalhado. A plateia é muito mais abrangente, embora o “umbilicocentrismo” dessa gente tapada não lhes permita enxergar.

Mas a inabilidade de gente desse tipo não é coisa a ser lamentada. É coisa a ser festejada! Esse país viveu um baile de máscaras que nunca pareceu ter fim, mas essa gente que circula em redor do Serra simplesmente não faz mais questão de máscaras. É um povo de um elitismo tão imbecil que praticamente sobe em palanque pra chorar saudades do sufrágio censitário.

Imbecilidade de inimigo não se lamenta, se festeja! Um brinde ao Serra e à payboyzada fresca que gira em torno de sua campanha! E um bom domingo para o Brasil! Vamos tacar mais gasolina no incêndio da Casa Grande e ver o senhorzinho gritar feito fresco suas asneiras elitistas!

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