sábado, 30 de outubro de 2010

O líder falido

 

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Sentei hoje com alguns colegas da época do curso de Direito e, como há muito não acontecia, me pus a discutir política num desses papos regados a cerveja, mas cuidei para que, dessa vez, passado o tempo das paixões, das convicções, eu fosse um sujeito mais a ouvir do que a opinar.

Queria tirar dali alguma análise, mais do que convencer, mais do que argumentar. Acho que essa é, definitivamente, a minha “zona de conforto” em termos de atuação política. Meu papel é analisar. Que se dane o argumentar, que se dane o convencer. Não dou a mínima para transformar a realidade. Interessa-me apenas olhá-la cara a cara, por mais horrorosa que ela seja. Rendo-me ao mais puro cinismo.

Chegada a véspera da decisão do segundo turno, eu precisava estar atento aos discursos. Queria saber o que passa, a essa altura, pela cabeça de ambos os lados.

Não existe mais o petista entusiasmado, ou quase não existe. Talvez haja um ou outro, entre essas pessoas nas quais o interesse por política é mais recente ou, obviamente, entre os carreiristas, doidos pra pegar uma cueca com uma boa grana.

Entre os meus amigos, gente que estudou comigo, gente da qual me acompanhei durante minha formação, com quem compartilho certos aspectos do meu pensamento político, há o “petista de ocasião”. Aquele que é “devolvido ao petismo” por força das circunstâncias, como ocorre agora nesse segundo turno.

Ninguém quer endossar cegamente o petismo “zédircelista”, mas, por questão de formação, por questão de valores, nos sentimos compelidos a manifestar, de todas as maneiras possíveis, nossa grande repulsa ao que representa o PSDB, José Serra como figura, e os discursos por ele inspirados.

Todas as máscaras tucanas caíram. O sociólogo da Sorbonne era bom em sustentá-las, mas Serra é um fracasso fragoroso nessa tarefa. Serra não sabe mentir, mas isso não é nele uma virtude. Não saber mentir é virtude para aqueles que não tentam viver de mentira. Para um sujeito como o Serra, não saber mentir é tão fatal quanto não saber respirar, por isso ele é, visivelmente, um morto-vivo.

Ao não saber mentir, Serra deixa transparecer, perfeitamente, o que ele representa em sua ação política. É o fantasma da Casa Grande voltando para assombrar a massa escrava quase século e meio depois da suposta abolição. Mas não é o tipo de assombração que chega pra aterrorizar. Chega tentando, debilmente, seduzir. Inclusive prometendo décimo terceiro de bolsa família, que é um prato extra daquela feijoada pútrida que se comia na senzala, daquele mocotó de porco em decomposição avançada.

Outro efeito marcante dessa inabilidade do tucano é a postura de sua militância (ou limitância), tipo de gentinha que discute política sem o mínimo de pudor sobre seus mais medonhos preconceitos. “Quem vai decidir essa eleição é o voto dessa gentalha, gente como a doméstica lá de casa”, diz o playboyzinho afrescalhado.

Ao sair de cena o “Príncipe dos Sociólogos”, cedendo lugar a um sujeito pequeno, mesquinho e vulgar como José Serra, não caiu apenas a máscara do PSDB. Caíram as máscaras dos seus entusiastas. E isso é, simplesmente, o maior trunfo na mão do PT.

Num país como o Brasil, você não pode fazer política com o discurso que só sensibiliza dondoca de salão de beleza e playboy afrescalhado. A plateia é muito mais abrangente, embora o “umbilicocentrismo” dessa gente tapada não lhes permita enxergar.

Mas a inabilidade de gente desse tipo não é coisa a ser lamentada. É coisa a ser festejada! Esse país viveu um baile de máscaras que nunca pareceu ter fim, mas essa gente que circula em redor do Serra simplesmente não faz mais questão de máscaras. É um povo de um elitismo tão imbecil que praticamente sobe em palanque pra chorar saudades do sufrágio censitário.

Imbecilidade de inimigo não se lamenta, se festeja! Um brinde ao Serra e à payboyzada fresca que gira em torno de sua campanha! E um bom domingo para o Brasil! Vamos tacar mais gasolina no incêndio da Casa Grande e ver o senhorzinho gritar feito fresco suas asneiras elitistas!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Herbie Hancock - Don't give up (feat. Pink and John Legend)


Do album "The Imagine Project" do Herbie Hancock. Talvez o melhor disco de 2010 em qualquer categoria, eleito por mim mesmo! :)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Quando uma bolinha de papel dá ensejo a um papelão

 

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Nesse episódio todo da tal bolinha de papel, é quase impossível que algo seja mais patético do que o Serra ou, pior, o cara que ligou pro Serra e deu a ideia de transformar uma bolinha de papel no factoide sobre "violência Petista".

Acompanhei a coisa desde a formação. Pela TV, mas acompanhei. Tava vendo a palhaçada. Serra em passeada, cercado de malucos truculentos e de fanáticos religiosos, como sempre, cruza com um punhado de militantes do PT, começa aquela confrontação típica de quando uma campanha desce ao nível que essa desceu... a tucanada junta com os fundamentalistas de todas as estirpes começa aquele papo de "terrorista", "assassina" e coisa parecida que tem sido o repertório de "arjumentação" deles nessa campanha.

Obviamente, quando se cria um clima desse tipo, alguns acabam indo pra porrada mesmo. Evitar a violência começa evitando as ofensas verbais. Como a "cruzada" do Serra era mais numerosa, inclusive, entre o pessoal que brigou, o punhado de militantes do PT foi que levou a pior.

No meio da confusão, alguém teve a infeliz ideia de dar uma de malandrão e mandar uma bolinha de papel na cabeça do Serra. Quem tem o cérebro minimamente capaz de raciocinar em termos de mecânica e viu aquela imagem sabe que a massa daquela bolinha, em comparação com a da cabeça do Serra, era irrisória, desprezível, tendendo a zero, por mais oca que seja a cabeça.

Ou seja, era apenas uma bolinha de papel comum, que bateu na careca do candidato e quicou sem provocar qualquer leve deslocamento da cabeça durante o “impacto” e, ainda, sem fazer com que ele manifestasse, no momento, qualquer expressão facial de dor. A tal bolinha veio, quicou, e nada!

Jogar uma bolinha de papel não é uma agressão física, é um desrespeito moral, é uma forma infantil de demonstrar repúdio, muito praticada pela molecada em idade colegial. 

Depois do “atentado”, Serra continua caminhando e recebe um telefonema. Esse provavelmente realizado pelo mentor da estratégia. Deve ter falado pra ele dar uma de Rivaldo e “cavar uma falta” pra criar um gigantesco factoide sobre a “violência petista”. Serra desliga o telefone e leva a mão a cabeça… opa… mas a mão não tá onde a bolinha pegou. Ele ficou passando a mão no outro lado da careca! Começa a passar mal e vai a uma emergência.

No hospital, deve ter feito uma tomografia para apenas constatar que ele “não tem nada na cabeça”, mas isso todos nós já sabíamos.

Além do papel ridículo representado pelo candidato, uma coisa também fedeu bastante no episódio. Quem acompanhou por vários veículos viu a diferença nas coberturas.

As outras emissoras mostraram o confrontamento de forma mais abrangente, mostrando como a coisa se desenvolveu, enquanto, no JN da Globo, o vexaminoso “Casal 45”, com cara de consternação, mostra um vídeo completamente editado para destacar “a violência dos petistas”. Mais adiante, só faltaram chorar abraçados com muita pena do Serra, tamanha aquela agressão… “alguém jogou um piano de calda na careca dele, meu Deus!”. 

Não podia faltar o Índio no vexame. “Índio quer cachimbo, Índio quer fazer fumaça”, como diria o Gabriel Pensador. Índio afirmou que estava ao lado do Serra quando ele foi atingido por uma coisa que devia ter uns dois quilos e parecia um meteoro! Alguém dá um chazinho de camomila pra esse Índio, caramba. Sujeito descontrolado. 

Episódios de violência são inevitáveis quando uma discussão política desce ao nível que essa desceu, quando o tucano fez todos os esforços para inflamar ódio baseado em religião e para tentar imprimir, na cabeça das pessoas, um repúdio ao adversário que tira dele praticamente a condição de humano.

O que a “cruzada tucana” tem promovido é isso. Tem gente se matando a bala por aí devido à irresponsabilidade de quem puxou a discussão política pra esse patamar de vulgarização. Mas isso não ganha destaque. O fato relevante é uma bolinha de papel numa careca. 

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O Índio descontrolado


malafaia

Como já era de se esperar, o nível da discussão nessas eleições despencou mais ainda no segundo turno. A baixaria aqui funciona que nem letra de funk carioca, quando você pensa que chegou no fundo do poço, aparece o Índio da Costa de mãos dadas com o Silas Malafaia pra comprar briga com os homossexuais. Aí dá pra perceber que um poço desse nunca vai ter fundo.

Desde o início, quando nem dentro do PSDB arrumaram alguém disposto a se queimar saindo vice do Serra nessa campanha, desconfiei da aparição repentina desse tal Índio da Costa. Fiquei curioso com a figura de um cara que aparece do nada e monta numa vaca dessa que vai pro brejo num galope alucinado. Vaca galopa? Sei lá. Põe na conta da liberdade poética.

Quanto a essa argumentação de que uma lei que torna crime ofender os gays em razão de sua orientação sexual fere a liberdade de expressão dos homofóbicos aguerridos, isso é coisa que só circula em ambientes de absoluta indulgência intelectual, como igrejas evangélicas e essas “seitas” de extrema direita de onde parece ter saído o tal Índio da Costa. Claro que eles iam tocar numa tecla dessas por ocasião de um encontro entre Silas Malafaia e o descontrolado vice do Serra.

Sério, mesmo. Eu fico até curioso sobre a “biografia” desse cara. Como pode ser lançado assim numa campanha à presidência de um país um sujeito com um discurso alucinado de adolescente neocon de comunidade de orkut? Até agora, além de ficar acenando pra a platéia feito um bobalhão, as únicas participações do sujeito na campanha fizeram os tucanos se arrependerem de terem-no colocado em cena.

O prejuízo político do episódio tende a ser considerável, porque entre os homossexuais o contingente é numeroso, ao que se somam parentes, amigos e etc. O que não passa pela cabeça  dessa gente é que os gays têm uma área de influência que vai além do “gueto”. E mais, também não conseguem perceber que o Brasil, em pleno 2010, não odeia homossexuais como eles gostam de acreditar que odeie. O baixo nível, a vulgarização do discurso vai ter seu preço.

Agora que o Serra já posou de militante do Greanpeace pra tentar ganhar espaço entre os verdes, talvez seja a hora dele pegar o batom e o salto alto da Mônica emprestados e sair por aí tentando remediar o prejuízo.

Artur Menezes - The Way You Make Me Feel - Blues Style

Talentos do blues fortalezense. Excelente versão, Arthur. Parabéns!


Artur Menezes playing "The Way You Make Me Feel", by Michael Jackson, in blues style, at Orbita Bar, Fortaleza, Ceara, Brazil.

Artur Menezes - Guitar and Vocal;
Lucas Ribeiro - Bass
PH Barcellos - Drums

Video: Saron Brandão.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Movendo os conteúdos de tecnologia

 

Caros pouquíssimos, porém prezados, leitores,

A proposta, ou ausência de proposta, desse blog, me permite escrever aqui sobre uma boa variedade de assuntos, mas percebi que os assuntos tecnológicos estavam ficando bastante destoantes.

Como escrevo usando um editor que me permite, ao momento da postagem, selecionar um blog para onde enviar aquele texto, resolvi aproveitar essa facilidade e organizar melhor as coisas. Dessa maneira, o blog que tratará dos assuntos mais nerds será o www.droider.com.br.  Aqui continua essa coisa de “variedades em geral”, mas nem todo mundo que vem ler algo sobre política, música e etc. está interessado em saber como hackear um smartphone, então vamos atenuar a bagunça.

Salve o Droider nos favoritos do seu smartphone, adicione no Google Reader, assine no Wordpress e fique ligado, pois acredito que, pra quem gosta de tecnologia, será um espaço interessante. Passe o seu leitor de códigos na imagem abaixo e boa leitura.

 

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Linha do trem

 

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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sobre a demissão de Maria Rita Kehl

 

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Escrevi inicialmente como um comentário no Facebook à notícia da demissão da Maria Rita Kehl pelo Estado de São Paulo, mas achei interessante trazer para deixar registrado aqui.

Isso porque, não apenas o texto que resultou na demissão da autora, como também o próprio ato da demissão, vem ao encontro de uma linha de análise que já vinha sendo tratada por aqui: o fato de que todo o discurso da tal “limitância” tucana online ser, essencialmente, baseado em preconceito, no que se pode chamar “pobrefobia” de certos setores da sociedade.

A campanha tucana é embasada e fortalecida essencialmente por preconceitos elitistas e por pura mesquinharia. O governo Lula tinha muito a ser criticado, mas o eleitorado tucano preferiu apontar a mira contra o "voto do pobre", os "vagabundos do bolsa família" e etc.

Mesmo não sendo entusiasta do PT que aí está e também não simpatizando com nenhuma das alternativas de esquerda presentes no nosso cenário, estou, agora, nesse segundo turno, com a Dilma. Isso por considerar a volta do PSDB um tremendo retrocesso e, fundamentalmente, porque NUNCA ninguém me verá fazendo coro com esse discurso escroto que tem sido o tom da "limitância" tucana por aí.

Posso mudar de opinião, como já mudei um bocado, posso rever minhas leituras de mundo, mas o essencial não muda, né? Baseado nesse essencial, eu não me junto pra fazer política com gente que tem ódio de pobre, sob nenhuma circunstância.

Sem entusiasmo algum, escolherei "o mal menor", votarei com base nisso e, principalmente, pela tremenda aversão ao discurso do "lado de lá".

Acredito que essa seja a única linha possível de ser seguida. Até mesmo os partidos de esquerda que se afastaram desse “novo PT” há algum tempo têm, nesse momento, como única escolha, fortalecer a campanha da Dilma, mesmo que seja exclusivamente para expressar o necessário repúdio ao “lado de lá”.  

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

De que adianta pintar-se de verde?

 

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Há um aspecto dessas atuais eleições, que salta aos olhos e que é um dos fatores que tomo para considerá-la uma das cenas políticas mais imbecis que pude analisar. Parece que os pensadores da política brasileira andam subestimando o avanço do fundamentalismo religioso e errando suas apostas devido a esse equívoco.

Passado o primeiro turno, o tucano tá se pintando de verde que mais parece um papagaio com uma deformidade no bico. O PT também tá pra largar de vez o vermelho e se esverdear todo. Pensam eles que a agenda ecológica era o fator principal a impulsionar a campanha de Marina Silva.

Sim, havia, no meio universitário, entre o público jovem, um grupo de pessoas que considerou uma  boa opção, num pleito tão complicado, abraçar a causa ecológica através da opção pela candidata do PV. Por outro lado, sabemos que turminha de universitários nunca impulsionou campanha de maneira muito significativa. Pode servir para alguns pleitos ao legislativo, mas não dá quorum suficiente pra impulsionar uma campanha à chefia do executivo com abrangência nacional.

O maior peso da campanha da Marina, apesar de todo o verde, era o da tal “bancada evangélica”, juntamente com suas “bases”, que agora faziam uníssono com as vozes preconceituosas da classe média católica, puxando essa barulheira ao estilo TFP que vimos ser ensaiada no primeiro turno e que agora explode no segundo.

Marina é uma mulher de considerável trajetória na política nacional e tem formação de esquerda. De certa forma, a candidata sabia não ser interessante para si o atrelamento explícito da sua campanha aos discursos de ódio religioso. Mesmo sendo crente, ela tinha bagagem política suficiente, além do envolvimento histórico com causas progressistas, para não querer que certos “argumentos” preconceituosos fossem usados por sua militância.

De certa forma, apesar de fortemente impulsionada  pelo neopentecostalismo, a campanha de Marina Silva funcionou, no primeiro turno, no sentido de conter o uso desses argumentos grosseiros e preconceituosos esperados quando a religião, como fenômeno de massas, passa a inspirar a política.

Agora  é segundo turno e sem Marina. Claro que a simpatia da direita religiosa recai sobre José Serra. Do outro lado está uma mulher de vermelho, com curriculo de envolvimento em movimentos rebeldes, um atrativo irresistível para os ataques de machismo e misoginia já esperados quando andam de mãos dadas a religião de massas, institucionalizada, e a estupidez, essas duas parceiras tão apegadas.

Explode o preconceito movido a fé, mas o Brasil mudou da década de 60 para cá. A força motora da nova “TFP” é a multiplicidade de igrejas evangélicas, onde os pastores acertam o que suas olhevas espalhadas por aí irão repetir irreflexivamente.

A elite católica brasileira entrou numa decadência tão franca que agora, até para sair nessa marcha retrógrada, com paixões políticas da medievalidade, vai de carona no barulho dos evangélicos. Na verdade ganha força a união dos preconceitos da nossa elite, movida mesmo pelo elitismo, pela aversão a pobre, com os preconceitos dos evengélicos em geral, fundamentados no que o pastor diz ser o “exemplo de Cristo”.

E essa tem sido a marca do segundo turno. A estratégia é vincular a candidatura do PT a determinadas mentiras que possam despertar ódio religioso e assim acender as velhas chamas. Inclusive a chama da misoginia, afinal, lugar de mulher, no mundo ideal dessas pessoas, não é em cargo de comando, absolutamente.

Talvez quando os nossos pensadores políticos fizerem o retrospecto dessas eleições percebam que, apesar de ter sido o pleito mais debatido da história, foi debatido nas bases mais imbecis possíveis. Talvez seja a hora, também, de parar de subestimar o fundamentalismo religioso “made in Brazil”, que isso não é coisa só do Oriente Médio. Existe aqui, é cheio de ódio machista, misógino, homofóbico, e talvez não tarde a se tornar violento.

sábado, 2 de outubro de 2010

Uma oposição que só fala para si mesma

 

elitismo

Interessante como as últimas postagens do blog renderam bons papos com amigos que vieram aqui, leram textos e discutiram alguns pontos.  Um deles desses pontos, “mote” desse novo texto, repetiu-se em duas dessas conversas e trata de uma idéia que eu já vinha amadurecendo para uma nova postagem. Resolvi antecipar, extraordinariamente, porque a votação é amanhã e, se deixar passar, a postagem fica obsoleta antes de vir para cá. 

Analisamos um aspecto peculiar nessa última campanha tucana, o que já havia sido tangenciado nesse texto recente. Trata-se da completa incapacidade do discurso produzido pela oposição no sentido de comunicar qualquer coisa ao povo.

Parece que o PSDB, inspirado pelas últimas modas em termos de marketing eleitoral, resolveu vir para a internet, ocupar espaços na rede, usá-la como veículo fundamental. A estratégia mostrou-se ridiculamente fraca em todos os momentos da campanha eleitoral.

Desde as participações do @joseserra_ no Twitter, com suas postagens destacadamente insossas, como não poderiam deixar de ser, relatando ter acabado de jogar ping-pong ou estar voltando de um almoço de família, até a contratação de um guru índiano de mídia online que nunca mostrou a que veio.

No Twitter, era o Serra tentando mostrar seu cotidiano, seu “lado humano”, seus laços com a família, como se isso fosse o fundamental para a construção da sua imagem de candidato. Ou seja, construindo uma impressão de “semelhança” com seu eleitor, com seus pares de classe média, numa comunicação que não fazia sentido pra público nenhum, que não tinha muito significado para ninguém. Você não acha interessante ver um amigo seu no Twitter falando que foi jogar ping-pong, você acha interessante quando ele fala algo interessante.

Ou seja, o Serra, em si, não é capaz de se comunicar de modo convincente, nem mesmo com os seus, nem mesmo com as pessoas pertencentes a sua mesma classe social e, muitas vezes, nem com seus próprios aliados. É tanto que o discurso dele é o discurso do EU. “Eu isso, eu aquilo, eu fiz isso, eu vou fazer aquilo. Eu escrevi o projeto que criou a lei da gravidade, que só passou a ser cumprida quando aquela maçã caiu na cabeça de Isaac Newton.”  É um sujeito que só fala de si e acaba só falando para si. O “nós” quase não aparece na fala do candidato. Todos sabemos: “eu” não faz política, “nós” é que faz. E não importa nem a concordância verbal.

Além dessa comunicação auto-referente do candidato, há o problema, e esse talvez mais grave, da sua, digamos… “militância”. A militância pró-Serra se comunica sempre usando como premissas de argumentação os seus próprios preconceitos, seus preconceitos de classe, como bem destacou meu amigo Jetther num comentário recente aqui no blog. São repassados reiteradamente e-mails que “berram” pela rede inteira que “SÃO OS DESVALIDOS QUE ESTÃO ESCOLHENDO O PRESIDENTE!!!!! UNS MORTOS DE FOME QUE NEM SABEM SOMAR COM OS DEDOS É QUE VÃO DECIDIR O DESTINO DA NAÇÃO!!!!!”.

Sim, eles escrevem esse tipo de coisa, tudo irritantemente em caixa alta, com abundância irritante de pontos de exclamação e comentento até um monte de erros de português enquanto acusam os eleitores do PT de serem analfabetos. Mas, vejamos, dotar até mesmo os desfavorecidos de capacidade decisória, da possibilidade de inrterferir nos rumos da nação, não é um dos principais escopos da democracia? Então aquele argumento serve para quê? Ele comunica o que para quem, a rigor, em termos de política?

É claro que esses e-mails circulam e provocam até mesmo entusiasmo. Alguns se põem a repassar empolgados. O que eles não sabem é que só estão falando entre si, que pessoas que não compartilham daqueles preconceitos nunca serão atingidas pela tal “mensagem” e que aquele desespero evidenciado pela caixa alta e pelas sequencias de pontos de exclamação também não é compartilhado por muitas outras pessoas além daquele “tiozão reaça de churrasco” que tá na sua lista e mais um punhado de bolsonaros espalhados por aí.

Talvez tenha sido esse fator que levou a campanha do Partido Verde, mais recentemente, a ganhar espaço sobre os tucanos. A campanha da Marina parte do reconhecimento de que o governo tem problemas, tenta fazer uma crítica mais lúcida, sem desespero, e  não usa preconceitos de classe como premissas. Seus militantes, em geral, são pessoas também capazes de se articular nesse sentido e a presença deles online é mais eficaz do que a truculência da militância tucana.

A vitória do PT nas próximas eleições não é o fim do mundo, como andam alardeando nas correntes de e-mail, não é o fim do Brasil, mas eu torço para que seja o fim do PSDB como principal oposição ao governo. Porque uma democracia, para funcionar, precisa de uma oposição viva, inteligente, e capaz de se comunicar com todos os setores da sociedade.

O que o Brasil precisa, não obstante quem esteja no poder, é de uma oposição renovada, mais inteligente e menos preconceituosa, gente que o PSDB não é capaz de reunir em torno de seus candidatos porque é um partido que, historicamente, esteve atrelado ao elitismo mais mesquinho, aos piores caracteres do atraso do nosso pensamento político e é isso que o partido atrai para si. É isso que acaba angariando esse peculiar voluntarismo truculento que espalhou e-mails preconceituosos enquanto pensava estar fazendo política durante toda a atual  campanha.

Enfim, eu não gosto de profetizar e, como já disse, não nutro grande entusiasmo por nada nas atuais eleições, mas se houver um segundo turno sem o Serra, se uma eventual ida da  Marina para o segundo turno for a pá de cal que faltava pra terminar o sepultamento do PSDB e, com isso, o país puder ter a  oposição renovada da qual precisa com tanta urgência, acho que gosto da idéia…

O emblemático vídeo das “massas cheirosas” já anunciava qual seria a marca da campanha tucana, na internet e fora dela.

Continuem lendo e comentando. O espaço aqui é nosso. Em breve irei migrar o blog para o Worldpress e hospedar num servidor próprio, além de adquirir um potencial novo colaborador, que além de ser um cara com uma tremenda capacidade crítica, é bastante experiente em mídia online. Meu velho amigo Jetther Binelli, da KNS

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Weather Report - Birdland

Esse é um fusion para se escutar sem ficar embasbacado com virtuosismos nem nada. A música é bonita e pronto.

O mais corrupto de todos os tempos da última semana

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Um dos argumentos mais frequentemente usados pelos anti-petistas aguerridos é o de que “nunca na história desse país” houve tanta corrupção. Evidentemente uma hipérbole tresloucada, coisa de gente sem capacidade de leitura da realidade e incapaz de apreciação cuidadosa da história.
 
O que abre espaço para o uso de tal argumento é o fato de que caiu, despencou, estilhaçou-se, a imagem do PT como última reserva de moralidade na política nacional. Disso não há dúvida.  O partido está aí de mãos dadas com Collor, com Sarney, coisas que “nunca na história” do PT, poderiam ser imaginadas.
 
O pragmatismo zédircelista fez com que o PT  se agarrasse sem ressalvas a qualquer estratégia de fortalecimento no poder, o que vem dando muito certo, de  forma que não interessa, e nunca mais irá interessar ao partido, bater de frente com caciques regionais, por mais espúrias que sejam as suas trajetórias políticas, por mais abjeta que seja a idéia de eventual aliança com eles.
 
Bom, até aqui eu, aparentemente, dei munição à barulheira oligofrênica das Reginas Duartes espalhadas por aí, agora vamos ao contra-ponto.
 
Para chegar efetivamente ao poder e lá se estabelecer, o PT optou por dar continuidade a práticas já estabelecidas, como uso de “caixa dois” de campanha e, supostamente, estratégias escusas para angariar apoio no congresso. Isso foi o que surgiu de mais destacável e foi a oportunidade à qual a oposição e certos setores da mídia se agarraram com mais afinco no sentido de desestabilizar o governo.
 
O problema é que o denuncismo irresponsável saiu pela culatra, porque a desmedida tempestade de factoides impediu que, mesmo os mais atentos, pudessem distinguir entre o que de fato estava acontecendo e o que estava sendo levianamente inventado. Nesse sentido, o PT foi ajudado involuntariamente pela posição insana da revista Veja e de outros veículos.
 
Agora, tratando do lenga-lenga segundo o qual o governo do PT atingiu o mais alto patamar de corrupção já havido nesse país, esse é um ponto mais intrigante.
 
Um dos maiores erros do governo atual foi não ter realizado, logo de partida, uma rigorosa averiguação de todos os processos de privatização havidos na gestão anterior.  Porque a verdade é que o Brasil não acompanhou o processo de privatização adequadamente.
 
Durante o governo FHC, enquanto o Estado era desmontado, a oposição comeu um “boi de piranha ideológico”. Enquanto todos  se ocupavam em debater o papel do Estado, a manutenção ou não de uma máquina Estatal mais robusta, implicações políticas e econômicas do modelo neoliberal, não se tratou de manter a atenção sobre como esse processo estava sendo tocado.
 
Estávamos todos ocupados em debater tudo numa abordagem acadêmica, o neoliberalismo estava vindo desmontar a máquina administrativa, seria o contra-fluxo de conquistas sociais, o fim do “welfare state”, o horror, o horror! Todos muito eruditos, muito ocupados em lapidar suas análises. Talvez por uma moda de empavonamento intelectual lançada pelo próprio FHC e assimilada inconscientemente até por seus mais enfurecidos opositores. O fato é que não havia muita gente atenta aos pontos mais simples, às próprias operações de compra e venda e à maneira como estavam sendo tocadas.
 
Depois de arrefecido o debate, quando todos lamentavam apenas o fato de as privatizações terem acontecido não obstante suas convicções contrárias, alguns poucos passaram a constatar que, enquanto faziam forte oposição às vendas de estatais, o que estava acontecendo na verdade era uma sequencia de doações graciosas camufladas de vendas.
 
É difícil mensurar corrupção para dizer o que é pior, mas acredito que um referencial adequado seja a lesividade ao patrimônio público. Nisso, é difícil concorrer com o que se deu durante a gestão tucana. Isso porque o percurso trilhado até a privatização geralmente seguia um roteiro padronizado:
  1. a estatal a ser privatizada passava um bom período à míngua, sucateada, para que lhe faltassem recursos e com isso se fortalecesse o argumento de que nada valia, que era apenas um peso a ser carregado pela administração. Em muitos casos as empresas não podiam, sequer, recorrer a créditos no BNDES para solução de seus problemas, o que estava vedado em Lei;
  2. depois de um longo período à míngua, a empresa recebia uma grande e violenta injeção de capital, para que ela passasse a ser  interessante ao adquirente num intervalo de tempo que não chamasse muita atenção da opinião pública;
  3. a cotação do valor da empresa pública a ser “vendida” era feita seguindo uma lógica de subvalorização alucinada, absurda, principalmente tendo em vista a anterior injeção de recursos feita para “revitalizá-la”, dispendiosa para o Estado;
  4. enfim, o adquirente arrebatava a empresa por um “precinho camarada”, tomando da própria administração pública um empréstimo para pagar, contraindo assim uma dívida que seria parcelada da maneira mais benevolente possível, paga com os próprios lucros da empresa, em parcelas diluídas a perder de vista com juros vistos apenas em negócio de pai pra filho;
Ou seja, qualquer um poderia ter se tornado dono de uma estatal. Eu, você, a Vânia, que é sua mulher, o Damião, a Andréia, a dona Maria. Não era preciso, de fato, ter dinheiro para adquirir a empresa. Era preciso ser camarada das pessoas certas, ser chegado da tucanada.
 
Não dá pra imaginar algo mais lesivo ao patrimônio público do que um processo como esse. Mesmo tentando, qualquer gestor que viesse depois teria imensa dificuldade em causar tamanho dano à administração.
 
O grande problema do PT, como já dito, foi dar continuidade a velhas práticas, corruptas, já entranhadas no funcionamento da política brasileira, quando chegou ao poder levando a responsabilidade de quem se apresentava como última reserva de moralidade no cenário. Foi isso que causou esse contraste, esse choque, que nutre o argumento estapafúrdio de que o atual governo é o mais corrupto da história.
 
Outro enorme problema do PT é a falta de elegância generalizada. Uma coisa é você ganhar uma Estatal, recebê-la de presente do “príncipe dos sociólogos”, numa transação que recebe todo um trato formal para que aparente ser juridicamente legítima. Outra coisa é um palhaço ser apanhado no aeroporto com a cueca cheia de dólares.
 
O único propósito desse texto é pontuar um tema tratado por aí de forma tresloucada. Não acredito que seja válido, em termos práticos, diferenciar mais honesto de menos honesto. Aprendi com a vida,  principalmente com meus pais, que ninguém é “meio honesto”. Não existe gradação em matéria de ética. Nesse sentido, me recuso terminantemente a ser apoiador de um partido que anda de mãos dadas com Fernando Collor ou com José Sarney. Faltas cometidas por membros do próprio time podem ser enfrentadas. É impossível formar uma grande equipe e poder “colocar a mão no fogo” por todos ali, mas os novos aliados, esses você escolhe, e essas escolhas dizem muito sobre você.
 
Em tempo: Quem tiver interesse em uma leitura séria sobre o tema das privatizações tocadas ao estilo tucano, recomendo a leitura do livro O Brasil Privatizado, do Aloysio Biondi, que pode  ser todo obtido gratuitamente nesse link.