Memes, gírias, palavrões, apelidos, irritação e antipatia.
O título ficou meio boiola, mas não veio outro.
Por esses dias retomei uma reflexão que sempre fiz, mas dessa vez resolvi organizá-la num texto, mesmo que não muito pretensioso, tendo em vista que é para uma postagem de blog.
É evidente que ingredientes fundamentais da convivência, fatores decisivos dos sentimentos de empatia entre as pessoas, ficam situados exatamente na linguagem, no uso corriqueiro de determinadas expressões, na comunicação informal cotidiana. No primeiro contato com uma pessoa ou com um grupo, as impressões que vão determinar empatia advêm, fundamentalmente, da linguagem.
Os exemplos são tão abundantes que não é possível explorá-los aqui, pois o texto iria fugir muito do formato blog. Profissões, esportes, tudo isso faz surgir grupos com linguagens peculiares que, pelo menos no meu caso, ao atingir o ouvido ganham uma importância tremenda quando se trata de simpatizar ou antipatizar pessoas. Não suporto advogados chamando uns aos outros de “nobres”, por exemplo. Irritam-me gírias de surfistas e de quaisquer tribos urbanas, e por aí vai...
O problema da gíria não é a gíria em si, e sim o uso exagerado dela e a maneira como ela prega na pessoa um estereótipo. Tem gente que faz de si um imã de estereótipos. Se começar a praticar um esporte, em uma semana convivendo ali, já sai de lá falando quase que exclusivamente através das gírias que absorveu por lá.
Outro problema do uso “aloprado” de gírias é a idade. Consigo tranquilamente conversar com um adolescente que faz uso até exagerado delas, mas o sujeito já grisalho usando linguagem de tribinhos urbanas? Isso é irritante a um ponto que eu simplesmente não consigo conviver, fujo mesmo.
Outra coisa interessante é o caso dos “memes” linguísticos, que se espalham, como consta na própria definição de meme, de maneira idêntica a um vírus de computador. Algumas pessoas são infectadas por essas coisas e, rapidamente, muita gente ao redor se infecta e sai infectando os demais. É o caso dos “com certeza”, dos “fala sério”, infecções já em declínio, novas expressões usadas por personagens idiotas de novela e coisas do tipo.
Falando em “tipo”, um meme linguístico muito peculiar é esse uso descontrolado do “tipo”, que passa a preencher todos os espaços entre uma palavra e outra. Geralmente afeta adolescentes, mas nada impede que possa infectar um adulto com imunodeficiência intelectual. Um dia desses ouvi uma menina falar e ela intercalava tantos “tipo” entre as outras palavras que eu simplesmente não conseguia saber o que ela estava dizendo, porque só conseguia, cada vez mais irritado, prestar atenção naquele desgraçado meme.
O que distingue a gíria de um meme linguístico é que a gíria, mesmo que de maneira um tanto idiota, comunica alguma coisa. Esses memes linguísticos têm por característica simplesmente serem vazios de qualquer significado. Quando você está falando e alguém intercala sua fala com “fala sério”, aquela pessoa não está pedindo para que você trate o assunto com mais seriedade. Ela está apenas preenchendo com uma coisa irritante e idiota os intervalos da sua fala.
Aqui em Fortaleza, por exemplo, há um desses memes que acredito ser oriundo de alguma banda de forró ou de algum personagem humorístico tosco. As pessoas iniciam quase todas as frases com “PENSE!”. Eu me irrito, mas se eu quiser antipatizar pessoas infectadas com esse maldito meme, vou ter que mudar de cidade, talvez até de estado, sei lá até onde se alastrou essa infecção desgraçada.
Enfim, esses memes se alastram, eles não comunicam NADA, e eles empobrecem terrivelmente a linguagem, porque, com o tempo, além de apenas preencher vazios, passam a substituir termos que deveriam efetivamente comunicar algo. Você comenta alguma coisa com a pessoa e ela responde simplesmente com “PENSE!”. A resposta mais acertada seria “pensar eu estou pensando, quem não está é você, porra!”. Aí o palavrão fica bem empregado, porque ele cumpre sua função de expressar profunda irritação.
Quando quero expressar indignação, o que não é muito raro, uso até mais palavrões do que gostaria. É algo em que preciso mesmo melhorar, mas, por outro lado, não é um problema tão grande quanto um outro uso, ALTAMENTE IRRITANTE, que é feito de palavrões. Aquele uso banalizado, onde as pessoas se cumprimentam xingando. Encontra um amigo na rua e solta “E aí, SEU VIADO, como é que vai?” e o outro “Tudo bom, FILHO DA PUTA, quanto tempo! Prazer revê-lo!”. Esse é um problema muito alastrado, que afeta muita gente, e um problema maior ainda para mim, porque acho tão insuportável que acabo evitando conviver com essas pessoas.
Outra coisa que tende ao ridículo é apelido entre adultos. Tirando alguns apelidos carinhosos, encurtamenntos do nome, coisas de família, que praticamente substituíram o nome do sujeito ao longo da vida e ele convive bem com isso, quase todo apelido empregado entre pessoas adultas é patético tanto para quem usa quanto para o alvo do uso.
Tem gente que encontra pessoas com que conviveu na escola e, como uma forma carinhosa de relembrar o quão antiga é aquela amizade, resolve empregar qualquer apelido escroto que o sujeito teve no colégio. Apelido é algo para ficar na adolescência, exceto no caso daqueles de família já comentados, ou no caso de você ser um adulto membro de uma gangue, executivo do crime organizado ou qualquer coisa desse tipo.
Acho que o blog voltou aos eixos. Depois de um tempo falando sobre tecnologia, ele volta ao seu objetivo principal que é dar vazão à minha rabugice. Espero que gostem, ou não. Tanto faz. Isso aqui é um exercício, mesmo.
Legal! Espero que o Noam Chomsky comente também.
ResponderExcluirheheheh
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