Discute-se a ausência de passarelas para acesso dos pedestres, inicialmente previstas no projeto do novo Centro de Eventos. Bismarck Maia, num deslize de franqueza, deixou transparecer em sua justificativa que esse cidadão de segunda categoria que usa transporte coletivo e que anda a pé não é esperado por lá, porque a programação não diz respeito a ele.
A fala é muitíssimo interessante em vários aspectos. O elitismo puro, que norteia o pensamento político desses senhores, fala por si. Analisando outras implicações da visão nela explicitada, temos que para eles o transporte público deve ser sempre usado apenas por aquela parcela de “semi-excluídos”, que podem eventualmente ir de ônibus ao forró na periferia, mas nunca a qualquer coisa no centro de eventos.
É mais interessante observar que o secretário toma como premissa a ideia de que o transporte público serve apenas a quem não pode pagar por dignidade. Usa tal ponto de partida para explicar a organização da cidade, do espaço público. Ou seja, em vez de discutir a melhoria e a ampliação do uso do transporte coletivo, o anti-pensamento anti-urbanístico do governo do estado consolida o atual "apartheid" configurando o espaço urbano de acordo com a segregação existente.
Ao redor do mundo, em cidades modernas, o “cidadão diferenciado”, o único digno do apreço dessa gente, anda de metrô vestido em seu terno de 3 mil dólares. O transporte público está ali cumprindo a função de atender a todos, democraticamente.
Certa vez, vi um aviso num ônibus em Edmonton, no Canadá, informando que a partir das 22:00 mulheres desacompanhadas podem pedir para que o motorista as deixe no ponto mais próximo de suas casas, mesmo que ali não haja uma parada, por questão de segurança. E olhe que o índice de criminalidade da cidade inteira não se deve comparar a uma amostra de alguns metros quadrados de qualquer pedaço de Fortaleza escolhido aleatoriamente.
Li aquela placa pensando no quanto ainda temos de avançar para que pormenores como aquele pudessem entrar em pauta, tendo em vista a maior gravidade dos problemas que se eternizam sem solução nesse tocante por aqui. O deslize de sinceridade do secretário de turismo deixa claro o quão longe estamos dessa discussão.
Busco ler sempre nas entrelinhas pra entender nossa política. Devo agradecer ao Bismarck Maia e aos outros com arroubos de franqueza pela chance que me dão de confirmar a acuidade de minha análise.
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