quarta-feira, 12 de maio de 2010

FHC, que na Sorbonne era gênio...

Lembro de quando Fernando Henrique subiu ao poder. Naquele tempo, boa parte da sociedade acreditava num compromisso social progressista do intelectual. Envaidecia ter um presidente com tanto prestígio acadêmico e situado, em tese, no campo da esquerda. Chegou ao poder “subindo com a mesma gente”, época em que os tucanos andavam irmanados com o que havia de pior no PFL (se é que dá pra distinguir o que há de pior ali), e deu no que deu.

Bom, no decorrer do processo, não sei onde se escondeu o sujeito progressista, com compromisso social, com trânsito no campo da esquerda democrática. Tampouco sei onde se meteu o intelectual. Juro que tento ver, nas análises de conjuntura feitas pelo “ príncipe da moeda”, alguma coisa que salve aquela impressão passada nas épocas do prestígio na Sorbonne.

FHC hoje é uma espécie de “encosto”. Politicamente, não pega bem estar junto dele. Um sujeito como o Serra, além de lutar contra a própria falta de carisma, ainda tem de viver temendo que, dentro do PSDB, algumas circunstâncias o coloquem em maior proximidade com o ex-presidente, pois é impossível não estar ciente do preço pago por tal proximidade em se tratando de empatia com a opinião pública.

Fernando Henrique não ajuda nem a ele mesmo. É nesse ponto que surge o questionamento: “onde se meteu o intelectual?”. O atual governo tem seus pontos fracos, tem setores passíveis de duras críticas, mas quando a palavra é dada ao ex-presidente, ele não mira nesses pontos. Sempre coloca a mira onde não devia, abrindo espaço para um contra-ataque implacável. Via de regra, aponta para setores onde o seu próprio governo era muito pior.

O “ mote” desta postagem é justamente esta entrevista onde o ex-presidente deu-se a comentar a atual crise na União Europeia, e eis onde ele baixa a guarda: “ Ele considera que o Brasil ficou para trás em termos de acordos comerciais, diferentemente de países como o Chile e o México”.

Um dos pontos onde o atual governo, sem qualquer esforço, supera imensamente a “era FHC”, é justamente na postura de firmar acordos comerciais sem seguir, única e exclusivamente, uma lógica suicida de submissão às grandes potências, mormente aos EUA. Durante o atual governo, tratou-se, como manda o bom-senso, de fazer múltiplas parcerias com outras nações em vias de desenvolvimento, onde é possível buscar benefícios mútuos discutindo os termos em situações de equidade ou até mesmo assumindo postura de liderança. A concepção tucana de comércio internacional ainda é aquela segundo a qual a globalização é uma grande suruba onde aos países pobres só cabe participar com a bunda, com o perdão dos termos.

Romper com essa lógica da submissão incondicional era obrigação de qualquer um que sucedesse a “era FHC”. Não há grande mérito nisso. Talvez seja o segredo do sucesso do Lula. Em quase nenhum setor é difícil ser muito melhor que o antecessor.

E assim segue o ex-presidente. O coração é um “pote até aqui de mágoas”, mas ele não pode ver uma goteira que vai pra baixo fazer o pote transbordar. Onde foi parar o célebre doutor da Sorbonne, quando numa mesa de boteco parecem surgir críticas muito mais certeiras ao atual governo do que nos seus doutos pronunciamentos? Dizem até que intelectualidade não se usa muito ao governar (se precisasse o atual estaria ferrado), mas se usa, e muito, quando se trata de criticar outros governos. O problema é que nem nisso o homem tem se mostrado capaz. Se não fosse o estrago que ele fez por aqui, eu até sentiria certa compaixão.

Só pra fechar a postagem comprovando mais ou menos o que digo, não custa rever o aperto que o homem passou naquele programa Hard Talk, da BBC, onde, vale salientar, não estava confrontando nenhum fervoroso defensor do governo do PT. Parecia estar apenas numa árdua luta consigo mesmo, com a própria consciência. Seguem os vídeos.









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