Acidrops
Política, pensamento crítico e, eventualmente, alguma futilidade, que ninguém é de ferro.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Cadê o Montesquieu que estava aqui?
Dentre as diversas razões pelas quais me mantenho afastado de política partidária, há a percepção de que, por ali, os consensos são usados tão somente para marcar posição perante o adversário. Para dar um exemplo claro, foi o que aconteceu com a reforma da previdência, para a qual o PT armou um escarcéu perante FHC e logo em seguida tocou o projeto tal e qual. Agora fazem o mesmo, ou pior, no tocante à independência dos poderes, o que é mais grave.
Quando FHC era acusado, com justiça, de deturpar a função das Medidas Provisórias para hipertrofiar o executivo em proveito próprio, acompanhei toda a discussão no plano político e acadêmico, e a “intelectualidade petista” estava conosco na universidade. O que fez o PT quando chegou ao poder? Deu perfeita continuidade à prática.
Como não se podiam contentar com a simples herança deixada pelo boçal da Sorbonne, temos em andamento a tal PEC 33, visando a submeter o Supremo Tribunal Federal ao Congresso. Estroncando os outros parafusos do sistema de “freios e contrapesos”, que até a pouco defendiam os petistas, fervorosamente na política e cheios de frescuras pra falar Montesquieu fazendo beicinho na universidade.
Por que Dilma nunca deu um “piu” a respeito da piada Feliciano? Ora, é uma figura interessante no Congresso. Numa casa abarrotada de vira-latas, após algum adestramento, quem controla a distribuição de ração, controla também o balançar dos rabos. Que tal um congresso adestrado que, de quebra, mantém a Corte Constitucional enlaçada na mesma coleira? E quando já temos uma mordaça encomendada para o Ministério Público?
Outra peculiaridade do caso é que a PEC 33 é iniciativa de Nazareno Fonteles, do PT, tendo como relator e entusiasta da ideia na câmara o deputado tucano João Campos. Ou seja, o PSDB que corria risco de morrer de fome após tanto tempo longe da mamadeira do fisiologismo, começa a comer da ração dada aos demais vira-latas. Sinaliza a certeza de que, caso chegue novamente ao poder, a tucanada levará consigo tal plano. Afinal o PT é o aluno mais brilhante que o PSDB já teve, e não há razão para não endossar seus projetos, naquilo em que for oportuno.
A soma dos dois golpes à independência dos poderes, do primeiro dado por FHC e do segundo orquestrado pelo PT, tem o efeito de desfigurar a própria definição do Brasil como república. O dito “império da lei” não se mantém nesse quadro, onde as decisões cabidas à Corte Constitucional são submetidas, na maior parte das vezes, àqueles que deram causa aos conflitos apreciados nas ações. Tudo isso num cenário onde o executivo já se encontra legislando há tempos e onde a vulgaridade do “toma lá dá cá” mantém o Congresso bastante domesticado perante a presidência. Enfim, dobra-se o STF, dobra-se a própria legalidade em sentido amplo.
Dizem que o problema da politica é a politicagem que corre sob ela. Aqui o caso é bem mais grave. Não há política. Há uma micropoliticagem, que é a politicagem propriamente dita, e a macropoliticagem que substitui a política. Por essas e outras, prefiro sentar na janela e ver essa parada passando, e tacar uma pedra aqui e ali. Participar da parada, não me atrai. Deixe-me com minhas pedras.
sexta-feira, 29 de março de 2013
Ninguém colocou esteroides na sua whey protein
Há mil argumentos para criticar essa indústria, inclusive a embalagem imbecil acima, que faz alusão a um anabolizante hormonal vendido no Brasil pelo laboratório Organon, mas podemos ter certeza de que não há nenhum esteroide em seus suplementos de proteína por um motivo que põe fim a qualquer discussão: adicionar essas drogas aos produtos, numa dosagem diária capaz de promover anabolismo, deveria triplicar ou quadruplicar o preço de qualquer um deles para que a venda permanecesse lucrativa.
Os anabolizantes hormonais são ésteres de variações da testosterona. Essas variações são projetadas para atenuar alguns de seus efeitos, potencializar outros. Entre essas variações, os ésteres 17-alfa-alquilados são geralmente usados para administração oral, pois conseguem atravessar o sistema digestório, continuando passíveis de absorção e de efetividade. Há três problemas referentes a essas variações em particular: elas costumam ser mais caras e também destacadamente hepatotóxicas além de inibirem o eixo hipotálo-hipófise-gonadal (HHG), sem promoverem efeito virilizante.
Caso a alegada inclusão de anabolizantes hormonais nos suplementos de proteína fosse realmente prática dos laboratórios, teríamos necessariamente três consequências esperadas:
- uma considerável alta nos preços desses produtos, porque ninguém iria vender proteínas e dar esteróides anabólicos fazendo caridade;
- o aparecimento frequente de usuários com hepatite medicamentosa, tendo em vista a agressão hepática advinda dos 17-alfa-alquilados, somada à elevada ingestão de bebida alcóolica que faz parte da nossa cultura.
- a castração química temporária de quem estivesse tomando esses produtos, uma vez que todos os 17-alfa-alquilados inibem a produção de testosterona endógena, ao mesmo tempo em que não promovem efeito virilizante.
Na verdade, as dose capaz de promover anabolismo muscular num corpo já treinado chega a ser, para alguns desses fármacos, cinco vezes maior que aquela indicada na posologia do medicamento, escrita na bula. Isso faz com que os custos desse tipo de uso se elevem, juntamente com os riscos de efeitos colaterais, entre eles o do desenvolvimento de uma hepatite medicamentosa.
Supondo que os malévolos fabricantes de suplementos estejam incluindo drogas sub-dosadas em suas fórmulas, como solução para o problema de custo, o tiro sairia pela culatra. O uso de esteroides em dose inferior à conhecidamente efetiva, para fins de anabolismo muscular, tende a ter efeito contrário, tendo em vista que a produção de testosterona endógena é, mesmo em baixas dosagens, pesadamente reduzida, pela inibição do eixo HHG. Nesses casos, além de a droga não surtir efeito, ela priva o sistema da testosterona produzida naturalmente, o que provoca a perda da libido e, dependendo da duração do efeito, provável perda de massa muscular.
Os usuários de drogas anabolizantes, aqueles que usam sabendo com o que estão lidando, têm o cuidado de administrar, concomitantemente, testosterona em doses terapêuticas, sempre que fazem uso de variações não virilizantes. Isso evita a dita "castração química" temporária, uma vez que a droga injetada substitui a testosterona endógena na manutenção da libido. Ademais, o uso de 17-alfa-alquilados nunca deve ultrapassar 6 semanas, devido à hepatotoxicidade.
Com isso, podemos prever o efeito catastrófico do uso dessas substâncias por quem as viesse a ingerir inadvertidamente, associadas a suplementos de proteína, por prazo indeterminado e sem outras cautelas. Esses efeitos jamais passariam despercebidos, o que serve para desmentir essa propagada teoria de conspiração.
O uso continuado tenderia a causar, além da já mencionada “castração química”, redução da massa muscular. É difícil imaginar que alguém possa usar tais efeitos como estratégia de promoção de seus produtos. Não se trata de confiar na indústria, o problema é que a estratégia não faz sentido. Ninguém pagaria por um pó achocolatado que prometesse favorecer o desenvolvimento muscular mas que, na prática, deixasse o usuário mais fraco, sem qualquer interesse por sexo, e amarelo, ictérico.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Meus últimos dois tostões ao Partido dos Trabalhadores
Tenho vontade de pontuar com precisão esse assunto há algum tempo. Tratar do contraste entre o respeito que tenho pelo papel histórico do Partido dos Trabalhadores e meu desconforto ante ao PT atual. Essa massa amorfa, mergulhada na soberba do fisiologismo, que ainda se vale daquela referência histórica para gozar de uma blindagem ante a qualquer crítica.
Pra começar, preciso frustrar as expectativas do antipetista visceral. Aquele que pensa em vir aqui pra me ver usando termos cunhados por um Reinaldo Azevedo da vida. Não é o caso, não é isso que farei, nem nesse texto nem num próximo. Tenho uma reputação a zelar.
Mantenho uma tremenda desconfiança sobre esse perfil do antipetista nervoso, chiliquento, que sai esbravejando termos como “petralhas”, falando em mensalão como se fosse a obra inaugural da corrupção no Brasil ou mesmo “o maior esquema” de corrupção da história. Até porque é esse tipo de crítica alienada e insipiente que fortalece a imunidade de um PT que merece, e requer, uma crítica mais apurada.
Ao mesmo tempo em que é preciso reconhecer avanços em políticas econômicas e sociais operados pela mudança de prisma na passagem do governo tucano para o governo petista, é chegada a hora de perceber que a fórmula estagnou, conforme já se podia prever que iria estagnar.
Sim, o governo Lula tirou o país de um caminho para a catástrofe. No plano internacional, substituiu a lógica do aprofundamento na subserviência por uma busca de relações bilaterais com outras nações em desenvolvimento, o que serviu para aquecer e para proteger nossa economia enquanto grandes potências passavam por crises profundas. Aqui dou meu primeiro tostão.
Além disso, no campo das políticas sociais, medidas de simples assistencialismo serviram para retirar um grande número de famílias da miséria absoluta, por efeito dos programas de bolsas que uma oposição raivosa passou a demonizar. Aqui dou o segundo e último tostão.
Por outro lado. o engomadinho que demoniza programas assistenciais e acha que o faminto pode esperar enquanto se pensa numa saída definitiva e genial para a fome é o tipo de figura que reforça a blindagem do PT, que possibilita ao partido o uso do argumento de que toda a oposição é preconceituosa e elitista.
Na economia, é preocupante observar que as vantagens advindas da quebra de paradigma na política internacional vêm se esgotando e que o país não aproveitou a bonança para cuidar de desenvolvimento de fato. O tal PAC não mostra a que veio no sentido de desenvolver infraestrutura, a produção científica não é incentivada. O país não prepara caminho para o progresso de fato.
As políticas para a educação não passam de gambiarras para mascarar estatísticas (ENEM, cotas, etc) sem que o quadro calamitoso da escola pública seja reconhecido e enfrentado. Os problemas da universidade são tratados apenas pelo viés quantitativo, do aumento do número de vagas. Enquanto isso, o PROUNI é um projeto de privatização silenciosa do ensino superior, aplaudido pelo Movimento Estudantil que sempre defendeu “educação pública e gratuita de qualidade”. Afinal, a UNE faz parte da claque do aplauso incondicional ao governo.
Na saúde, pra quem gosta de números, basta mencionar que o SUS perdeu 42 mil leitos entre outubro de 2005 e junho de 2012. Faculdades de medicina no país enfrentam o dilema entre o sucateamento ou a privatização dos hospitais universitários.
Enquanto se implementaram programas assistenciais de urgência e a economia cresceu de maneira modesta, mas estável, criando mais vagas de trabalho formal, a grande “transformação social” da qual o PT gosta de se vangloriar se baseia na mudança de padrões de consumo do trabalhador, que agora pode comprar eletro-eletrônicos vindos da China graças a uma grande capacidade de endividamento.
Ou seja, num quadro em que pouco ou nada se faz pela saúde ou pela educação, a maior vitória esbanjada pelo governo consiste em propiciar o consumo de tranqueiras pelo trabalhador que mantém seus filhos numa escola de quinta categoria, numa família em que, se alguém adoecer ou sofrer um acidente, terá de enfrentar o calvário do SUS, mas tem TV de LCD e paga por ela uma prestação a perder de vista.
Nesse quadro, a maior parte do “progresso” do qual o governo se vangloria é uma ilusão. Será possível que a utopia progressista almejada pelo Partido dos Trabalhadores se limita a uma réplica fuleira do “american way of life” falsificada no Paraguai ou trazida da China, comprada num crediário com parcelas a perder de vista?
Enquanto isso, na economia, seguimos sedimentando nossa vocação para sermos a seção hortifrútis do mundo globalizado. Não se fala em incentivo à pesquisa científica e o país se deu ao luxo de passar o todo o segundo semestre de 2012 com as universidades federais paradas porque o governo “não teve tempo” para negociar com os professores e técnicos em greve.
Ao contrário do antipetista visceral, reconheço a grande importância que teve o Partido dos Trabalhadores na vida política do país. O PT, enquanto grande partido e enquanto referência de esquerda, serviu para trazer à baila discussões que não entrariam em pauta por obra de nenhum outro partido. Ou pelo fato de a velha direita reproduzir a mesquinharia de uma elite retrógrada, ou pela menor expressividade dos demais partidos de esquerda.
O problema é que aquele PT não mais existe. O que está aí é um partido que, pela via do pragmatismo, enveredou no fisiologismo e perdeu a identidade há bastante tempo. Enquanto isso, continua gozando dos benefícios daquela referência histórica que não mais existe.
O resultado é um PT que virou puta, que abraça o Maluf em São Paulo, que está em campanha coligado à Roseana Sarney no Maranhão, mas que se faz de donzela virgem na hora de criticar as alianças e coligações de qualquer outro partido dito de esquerda no país.
Para piorar, a trupe do antipetismo nervoso, que vai da dona de casa leitora da Veja, passando pelo “internauta” assíduo do blog do Reinaldo Azevedo, chegando até a ala raivosa e perigosa das viúvas da ditadura militar, ajudam na construção de uma blindagem para o PT segundo a qual toda e qualquer oposição é preconceituosa, elitista, e golpista. O enorme barulho feito por esse manicômio que é a direita brasileira acaba por abafar qualquer crítica que se pretenda fazer ao governo.
Como já tratei em inúmeros outros textos aqui, boa parte das lágrimas derramadas por uma oposição patética que acusa o PT de conduzir inquebrantável projeto do hegemonia representam o choro de grupos desprovidos de capacidade crítica, para a qual o senhor José Serra e o falecido PSDB podem ser tomados como referências máximas.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
E os novos ventos do STF sopraram pra longe a CPI do Cachoeira
Não obstante o choro de uns e a alegria de outros, o julgamento do mensalão tem representado um marco na história das nossas instituições. Pela primeira vez, o STF mostra pulso e parece disposto a julgar “doa em quem doer”, não importando quantos engravatados devam acabar no xilindró. Esse recado foi ouvido no Congresso, e já fez com que o espírito de corpo tomasse conta da casa, servindo para dar um novo rumo à CPI do Cachoeira.
Da parte dos trabalhavam a versão de um PT messiânico sendo levado ao Calvário pelo atroz Joaquim Barbosa, tomado como um implacável defensor dos interesses elitistas do império, a ladainha que se repetia era “e a CPI do Cachoeira?”, “e o mensalão tucano?”. O fim dessa lamúria se deu de maneira inusitada, com o próprio PT orquestrando no congresso o encerramento da CPI que investiga o esquema do bicheiro antes que as investigações recaíssem sobre políticos.
Parece uma relação direta de causa e efeito. O recado dado pela mudança de postura do STF chegou ao Congresso e, com base nele, certas “desavenças” foram aplacadas e entrou em ação o espírito corporativo. O “deixa disso” generalizado é apenas o esperado diante do aviso: o que antes não passava de um teatro agora tem mais chances de botar corrupto efetivamente em cana.
Uma ala do PT ainda é favorável à prorrogação da CPI, para que ela chegue ao tucano Maconi Perillo, governador de Goiás, mas com o avanço dos trabalhos, também deveria falar Luiz Antonio Pagot, ex diretor do Dnit, que considerou anti-ético um pedido que lhe foi feito pelo PT durante a última campanha presidencial.
A verdade é que a CPI do Cachoeira não serve como campo de batalha pra ninguém, porque as baixas para todos os lados seriam muito numerosas. Diante de um STF que parece mais disposto a mandar político pra cadeia, o desfecho mais óbvio é o que estamos assistindo. Tudo termina com os mesmos tapinhas nas costas entre aqueles que estão com seus rabos igualmente presos nas ramificações do esquema do bicheiro.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Moroni Torgan, “voto útil” e você na massa de manobra
O curioso é que, apesar de o mórmon "valentão" largar sempre com grande vantagem, quem é o verdadeiro eleitor dele? Ninguém sabe, ninguém viu. Ou melhor, eu mesmo vi uma vez um carro com um adesivo dele e um outro da Ação Integralista Brasileira (AIB), mas Fortaleza não é a Alemanha de 1932 pra ter eleitores em massa simpatizando com esse avanço fascista. Isso não existe, assim como não existe no povo empatia pelo sujeito que possa colocá-lo naquela liderança inicial. É o que fica sempre demonstrado ao longo do processo.
O fato é que a presença da “ameaça fascista” no topo das pesquisas por um bom tempo, na fase inicial das campanhas, acaba tendo por efeito fixar no eleitorado a ideia do voto útil. O voto pra tirar o fascistão de lá. E quem é o candidato escolhido para tanto? O mais forte, o que conta com aquela campanha milionária, o que é alavancado pelo repulsivo uso da máquina administrativa para fins eleitoreiros. Qualquer um dos dois que, igualmente, cumprem com esses quesitos. No presente caso: Elmano de Freitas (PT) e Roberto Cláudio (PSB).
Por algum tempo, analisei apenas como curiosa essa manobra de inversão realizada pelo Moroni, de largar na liderança e, invariavelmente, afundar. Hoje a tomo como suspeita. Não desconfio que ele lance candidatura apenas para isso. Desconfio é que os institutos de pesquisa venham usando sua caricata presença de “bicho papão”, forjando sua liderança inicial para evitar grandes variações no resultado das eleições.
Isso porque os investidores das grandes campanhas, as que tiraram o “bicho papão” do segundo turno (onde ele talvez nunca tenha estado) são ou os mesmos, ou igualmente fortes para que possam realizar esse jogo de bastidores. A mamata das empreiteiras com as presumíveis licitações de cartas marcadas, essa desgraça engendrada pelo nosso modelo de financiamento de campanhas, só fica ameaçada se for eleito um “azarão”. Com qualquer um dos candidatos oficiais, o retorno do investimento milionário em campanha fica assegurado.
Ao mesmo tempo, colocar um “bicho papão” com uma rejeição gigantesca como líder inicial das pesquisas é uma maneira muito eficiente de manobrar o “voto útil” para fortalecer os candidatos situacionistas e obstar o sucesso de qualquer candidatura mais modesta, que represente um risco de ruptura com os esquemas em andamento e com a imundice já reforçada pelos volumosos patrocínios de campanha.
Resta saber por quantas vezes essa mesma cena ainda se repetirá. Quanto tempo levará para que esse jogo seja manjado. Se estiver em Fortaleza em 2016, à altura das eleições municipais, tentarei trazer novamente à tona essa discussão, usando as redes sociais. Talvez com isso eu possa cumprir um papel mais interessante do que o de simplesmente declarar apoio a um candidato. E meu candidato, pode ter certeza, nunca é o “dos esquemas”, nem nunca será. Pra mim, esse agigantamento fascista que nos mostram inicialmente as pesquisas, simplesmente nunca existiu.
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Joaquim Barbosa, sem querer, seduziu a direita manicomial
A última atração no freak show da política brasileira é essa aglutinação da milicada saudosa da ditadura em torno do ministro Joaquim Barbosa, como se o homem fosse se animar em virar aliado político deste “peculiar” setor do espectro ideológico, que eu costumo chamar de “ala manicomial” da nossa direita. Não todo o contingente das Forças Armadas, que tem bons democratas, mas aquela velha "turma", sempre com o mesmo papo.
O general José Elito Carvalho Siqueira, muito solícito, escalou proteção do exército para o ministro, tomado simbolicamente como um herói nacional no processo do mensalão. Isso sem que houvesse qualquer indicativo de ameaça contra Barbosa. Parece que escalar homens armados pra montar vigília na casa de alguém é uma “gentileza”, na cabeça desse pessoal, feita como quem manda uma garrafa de vinho de presente a um amigo.
Essa é a pérola que circula pelas redes sociais. |
Não é o tipo de sujeito que vai ser seduzido por aquele “peculiar” grupo que fica salivando diante de qualquer ensejo pra tornar a ameaçar a democracia nesse país. Se é pra isso, escolham outro. Quem sabe o Gilmar Mendes. O Barbosa não vai! Falando nisso, por que mesmo o Gilmar anda tão quieto nessa história de mensalão, hein?
Imagino a situação do Barbosa agora e lembro dos motivos pelos quais eu, mesmo em momentos nos quais teria motivos para bater de frente e bater forte no PT, acabo optando por "pegar leve". Não me convém que a tal ala manicomial olhe pra mim como possível aliado. Ganhar a simpatia política dessa turma é um constrangimento pelo qual não desejo passar, daí imagino a saia justa em que se meteu o ministro, que tá ali apenas fazendo seu trabalho.
Está na hora da política brasileira amadurecer, de criar alternativas dentro do cenário democrático e de virar essa página desgraçada da nossa história. Ao mesmo tempo em que o PSDB acabou-se porque é incapaz de fazer oposição com inteligência crítica, quem aqui e acolá sobe no palanque da oposição é essa turma que range mais os dentes do que fala.
Foi por isso que as últimas eleições presidenciais foram um dos episódios mais imbecis da nossa história. Quando iniciaram-se as discussões, quem estava à frente da oposição era o tal Índio da Costa, delirando sobre as FARC, sobre o Foro de São Paulo e sobre todas as teorias de conspiração comunista que habitam as fantasias dessa ala manicomial da direita brasileira. O PSDB calado, só batendo palma pro doido dançar.
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Espírito republicano sem altruísmo presumido
O brasileiro parece ter dificuldade para desatrelar o espírito republicano de uma dose elevada de altruísmo. A necessidade de ver uma ligação entre uma coisa e outra pode turvar nosso raciocínio político e nossa capacidade de analisar os candidatos, os grupos a que pertencem, os interesses que representam e até suas propostas.
Essa ligação, existente no nosso imaginário, condiciona os discursos e nos força à generalização da hipocrisia. Qualquer candidato precisa se apresentar como aquele sujeito que está abrindo mão de sua vida privada para, de maneira sacerdotal e abnegada, dedicar-se a cuidar da coletividade. O problema é acentuado pelo populismo que norteou e ainda norteia muitos discursos.
Trazendo o tema para o campo da sobriedade, deveria ser mais fácil entender que um homem pode se interessar pela vida pública também para se realizar profissionalmente, dando melhor aproveitamento a suas aptidões. Esse tipo de realização, impulsionada um pouco pela boa dose de vaidade que cada um de nós carrega, direciona escolhas profissionais e é capaz de arrancar bastante empenho.
Estar inserido na atividade com que se identifica, onde pode trabalhar com paixão, talvez não seja a mais comum das ambições num mundo comandado pela caçada ao dinheiro, mas é uma busca que marca bastante as lutas de alguns homens. E não há altruísmo nisso. Trata-se de fato de uma busca bastante individualista, embora possa ser enfeitada com algum romantismo, o que não acontece com a simples busca do enriquecimento.
Por outro lado, parece imperar um simplismo conforme o qual há apenas dois tipos de homens, o ambicioso caçador de fortuna e o altruísta, descendente direto da Madre Teresa de Calcutá. O primeiro seria um corrupto inato e sobre o segundo recairia a legitimidade para fazer política pensando efetivamente na coletividade, atento aos ditames do espírito republicano.
Acredito que a ambição desmedida faz o corrupto, mas não acredito no descendente da Madre, até porque ela não deve mesmo ter tido filhos. Porém, há outros sonhos que alimentamos, entre eles o de dar plena vazão a nossas potencialidades, de sentirmo-nos bem aproveitados intelectualmente, de estarmos em contato com nossas paixões, que podem inspirar um bom político que não seja necessariamente um abnegado altruísta.
Claro, um mandato amplia contatos, pode melhorar naturalmente a posição social do candidato sem que esse se mostre um corrupto, sem que ele dê uma banana ao enigmático espírito republicano. Isso é reprovável? Que profissional, de qualquer outra área, não gosta de ascender em sua carreira?
Acabar com essa ingenuidade sobre o político altruísta ideal pode ajudar na escolha de bons candidatos.
Não quer dizer que cada um faça política buscando apenas o melhor para si, pois isso, em sentido amplo, é corromper-se. Quer dizer apenas que é possível haver um político profissional que pensa em realizar-se profissionalmente na política e esse homem não é necessariamente um bandido e nem precisa ser um santo.
Essa visão binária, maniqueísta, é uma das fontes da nossa cegueira, da nossa incapacidade de interpretar os processos numa democracia representativa.
Tocando no básico, a política deve ser feita tendo em vista os assuntos e interesses da coletividade. Cada um representa mais precisamente os interesses daquele grupo ou classe social à qual está mais intimamente ligado, que inclusive lhe confere apoio político. Essa é a natureza do processo democrático.
O que importa, em termos de leitura da realidade, é justamente identificar os interesses que representam os candidatos com base no contexto em que eles estão inseridos, nos grupos com que se relacionam. A simpatia ou antipatia com um candidato ou com um projeto, pedindo alguma licença ao Carl Schmitt, deve se basear nisso, e não na eterna espera do candidato ideal, desmedidamente altruísta.
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